Teresa Cristina

Teresa Cristina
A simbiose do amor

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Sofrer todos sofre... Mas saber recomeçar é dádiva de Deus

Meu Blog, talvez pareça piegas, mas deixo nele momentos que vivi e aos quais sobrevivi, e espero que sejam úteis àqueles que porventura estejam ou tenham passado por momentos de angústia, para que saibam que o ser humano tem uma capacidade imensa sobreviver quanto maior for à dor maior será a coragem a vontade que tudo acabe bem, cito Drumonnd “... o sofrimento é inevitável, mas a dor é opcional...”.



Todos têm um sonho... Eu tive o meu há muitos anos era amiga de um moço, e numa noite a qual coloco de carência perdi minha virgindade e nesta mesma noite engravidei deste amigo, terminei minha graduação... Fiz tudo conforme as regras pré-estabelecidas socialmente. No dia 02 de Março de 1985 casei-me, com alguém com quem imaginei passar toda a vida e ter uma grande e saudável família.



Nosso primogênito nascerá em 15 de Julho de 1985, um bebem adorável... Mesmo tendo sido parto prematuro, trazia consigo as realizações de sonhos dos pais e avós, além de ser um presente a Adão, meu marido, que havia feito aniversário no dia 9 do mesmo mês. Sonhos, esperanças realizações eis o que o nosso Fabio representa para toda família.



Fábio crescera saudável até por volta de um ano e meio, quando começou a engordar descontroladamente. Como toda mãe, a princípio, achou ótimo um filho gordinho, coradinho... Mas logo a notícia trágica nos abateria, a mim e a meu marido. Fábio era portador de hipertensão pulmonar.



Nossa luta começava neste momento, em busca de conhecer detalhes minuciosos da doença, procurar especialistas, buscar toda a espécie de esclarecimentos. Começava ali nosso sofrimento. Interessante observar o quanto à ignorância nos afasta da dor e dos questionamentos, "já o fato de estarmos conhecendo o fundo à luta que iríamos travar nos trazia sofrimento em demasia”.



Quando Fabio completou dois anos engravidei de meu segundo filho uma gravidez planejada, sonhada. Durante a gravidez a doença de Fábio acelerou de tal forma que em agosto de 1987 nascia Juliana através de cirurgia de cesariana e, com 24 horas de nascida teve que ser transportada por mim a São Paulo, pois precisava acompanhar Fábio que apresentava descompensamento cardíaco. Lá estávamos eu e meu esposo com uma filha de horas nascida nos braços à revelia de todo os riscos de infecção hospitalar, e outro na UTI do Hospital da Beneficência Portuguesa de São Paulo. Não abrir mão de acompanhar a situação de Fábio e tampouco de ter a Juliana junto de comigo. Meu esposo voltou ao trabalho a empresa não aceitaria sua ausência por meses a fim deixando ali eu na sala de espera com nossa pequena Juliana e Fabio separado por nós por paredes em aparelhos que o mantinha vivo.



Só voltamos para casa seis meses depois. Vivi e vi Juliana crescendo praticamente no ambiente hospitalar a espera da alta do irmão, neste momento pôde contar com a ajuda de Deus e de meus pais que viajavam horas a fim para ficar instantes com o Fabio para que pudesse amamentar a Juliana Foi um tempo difícil, manter duas crianças dentro de um hospital. Quando Fabio teve alta da UTI, descobri uma forma de sobreviver, recebia de outras pacientes sobras em forma de frutas, pães a qual dali me alimentava. Pois não poderia sair daquele quarto. Conheci André um garoto de 10 anos cuja família tinha deixado-o a mercê da cura era proveniente de algum lugar da Amazônia, com ele dávamos boas risadas, tinha que transformar o sofrimento de alguma forma em alegria, pena que quando Fabio teve alta hospitalar, André teve alta para o céu.



Regressamos ao lar em janeiro de 1988. Só o fato de sair do transtornante e mal cheiroso ambiente hospitalar já foi uma imensa graça. Começávamos a conviver felizes com Juliana e a possível cura de Fabio, ousamos tanto, que adquirimos um cachorrinho para fazer parte do nosso lar. Tatá (o cachorrinho) era a alegria de Fabio e Juliana, mas o animal parecia pressentir algo e veio a falecer com pouco tempo de convivência com as crianças. Apesar da perda de Tatá, levamos adiante nossas vidas, com idas e vindas a São Paulo, para exaustivos socorros e tratamentos de Fábio. Juliana parecia que pela misericórdia divina, nunca havia tido sequer uma febre.



A cada ida à capital investíamos toda a esperança que podíamos juntar em relação à cura de Fábio. Abandonei todas as minhas atividades para que pudesse me dedicar integralmente ao obsessivo acompanhamento que fazia a Fábio - pressão arterial, controle hídrico etc. E os poucos momentos que me restavam eram dedicados à tentativa de ser mãe e esposa, voltei a trabalhar, o tratamento ficava cada dia mais custoso e a falta de dinheiro era algo marcante. Minha obstinação com o tratamento e atenção dedicados a Fábio era tanta, que me leva a perceber hoje, o quanto possa ter sido difícil para Juliana e Adão, pois, naquela época, eu estava cega para ambos, lia e relia toda bibliografia que pudesse ter em mãos a respeito da doença de Fábio, na vã tentativa de encontrar algum detalhe, por menor que fosse que pudesse ter fugido ao conhecimento dos médicos. Por isso creio que o ignorante sofra bem menos por desconhecer as possibilidades e, portanto, não questionar não conjecturar não tentar e, conseqüentemente, não fracassar, não frustrar. Fabio descompensou em agosto de 88, não tínhamos tempo de chegar a São Paulo, a cidade mais próxima era Bauru, lá ficamos e Fabio sapeca mesmo sabendo que a morte rondava brincava dentro do ambiente hospitalar. Mas a morte veio impetuosa, numa terça feira de nos levou Fabio, hoje consigo ver a dimensão da dor, quando fui buscar Fabio na recuperação ele teve sua primeira parada cardiorrespiratória, assisti tudo por uma porta de vidro, inerte vendo pedaço meu parar, levar choques, foram cinco dias de angustia na porta da UTI, Fabio em coma com morte cerebral, Adão um zumbi entre lagrimas e aceitação de ver cada órgão de Fabio ir parando, morrendo. Numa manhã de setembro, a enfermeira entrou e deu nos a noticias Fabio falecera, mas deparei com o medico que iria ver Fabio na UTI, avisei-o Fabio faleceu, ele apenas em um abraço sereno me disse a nossa Juliana também vai falecer tem no máximo um ano de vida.



Após o sepultamento de Fabio, na cidade de Valparaiso (cidade natal minha), voltamos para casa com nossa filha Juliana. Sabíamos que nada mais seria como antes, faltava Fábio e havia as dúvidas e incertezas de que Juliana permaneceria conosco e por quanto tempo. Acreditamos, então, que uma nova gravidez pudesse ajudar. Nesta época pude contar com meus primos Neto e Rosee principalmente a Jacira minha cunhada, bem como os familiares do meu esposo. Até que o assunto era a possível morte de Juliana, notei todos afastando, deixando nós três presos num elo onde cada um teria que apoiar-se um ao outro.



Os dias se passavam, e os que conseguiram conviver conosco chegara a crer que ambos estivéssemos a caminho da loucura, a perda de um filho e a subseqüente expectativa de perda de outro. Pudemos presenciar o afastamento dos familiares que não suportavam conviver com tamanha dor e expectativa angustiante. Restava então a nós dois conviver com esse sofrimento indescritível.



Adão e eu estávamos de acordo de que Juliana não seria um bichinho de laboratório nem de UTIS como aconteceu com Fábio. Aguardaríamos os acontecimentos com ela junto de nós recebendo nosso amor que pouco pudemos dar por ocasião dos tratamentos de Fábio.



Se tinha que morrer que tivesse pelo menos o amor dos pais, que tanto ficamos ausentes pela doença de Fabio.



Adão pouco falava eram difíceis às palavras naqueles dias... Juliana enfrentava com dignidade o que fora traçado pelo destino. Falávamos sobre vida e morte com uma assustadora naturalidade que chegava a parecer insano. Mas era o assunto que a vida nos reservara. Como preparar uma criança de 2 anos à morte?



Surgiram então os problemas na terceira gravidez. Adão agarrava-se à Juliana e ficava por longas horas… quieto...mudo em uma total introspecção, onde travava uma silenciosa guerra mental entre vida e morte.



Num dado fim de semana Juliana me pediu empadinhas no jantar, então compramos, e a assistimos comendo prazerosamente o salgado. Enquanto degustava, Juliana tombou. O silencio que fizemos era tal, que chegávamos a escutá-lo. Ambos, angustiados, sabíamos que talvez, naquele momento, Juliana estivesse principiando sua partida.



Levamos nossa filha à São Paulo onde, pela primeira e única vez, entrava em uma UTI. No dia 23 de Abril de 1989 às 5 horas, vitima de um infarto fulminante, Juliana nos deixava, sete meses após a partida de seu irmão,vitima de um infarto, lá estava ela indo ao encontro de seu irmão, tamanha era a dor que nem mesmo os médicos segura as lagrimas.



Após o velório à cidade a qual vivíamos com há gravidez cada dia mais problemática, mas parecia que aquele bebe não poderia também ficar conosco.



Voltamos junto aos nossos familiares, naquele momento não éramos mais um casal mas, apenas seres humanos que haviam perdidos juntos sonhos e saboreados momentos que ninguém iria retirar de nós, onde a cumplicidade pela dor foi o que nos restou.



Mas o inevitável aconteceu cinco meses após a morte de Juliana, Paula nasceu e em seguida faleceu também portadora do mesmo mal. O que fazer agora? Como sobreviver às perdas em um período de um ano onde os três foram embora e deixando Adão e eu sós em nossos mundos, pois cada um criou barreiras dentro de si mesmo. Foi quando renasci das cinzas e optei por um novo bebe.



Veio à luz outra vez, Camila com seus dois meses e com muita vontade de um seio materno, era o que tinha a oferecer meu amor e meus seios cheios de leite. Adão voltou a sorrir bem como eu, mas e o medo? Será que esta também nos deixara? Quando Camila completou três anos Adão partiu para uma nova vida, restou Camila e eu. Passaram-se 17 anos, hoje ela é tudo que tenho minha riqueza, meus sonhos, minha esperança. Sei que um dia esta também partira, mas creio que esta partida será para um novo mundo: os dos estudos, de uma união com alguém que ame e dali formara uma família, a qual vai me trazer mais luz meus netos. Voltei a viver, amar e ter por que viver.



Sei que onde meus pequenos estiverem, estarão olhando por nós... Por mim, por Camila, pelos avós e pelo seu pai Adão. O que importa neste Blogger não é fazer-me de vitima nem relatar tragédias, por que sei que existem pessoas a qual passaram por situações piores que as minha. Este espaço é apenas para que quando for lamentar de sua vida lembre-se existem mil motivos para sonhar e o que importa que estejam aqui em uma missão e que devemos fazê-la com exatidão sem lamurias ou reclamações. Hoje tenho mil planos.... meu mestrado...ver minha filha terminando uma graduação...depois um doutorado e juntas cada qual duas mulheres cheias de garras enfrentando nosso universo as vezes tão unidas outras tão distantes, pela idade que nos difere, mas tem algo em nós imutável....nosso amor uma pela outra...uma simbiose de esperança e de fé que nem tudo acaba no primeiro sofrimento ou perda. Por isso fiz desta frase de Drumonnd a minha frase "o sofrimento é inevitável, mas a dor é opcional”.



“As coisas que amo deixo as livres... se voltar é por que me pertence, se não voltar é por que nunca as tive”.



Beijos



Teresa Cristina